quinta-feira, 5 de julho de 2012

Músicas no processo de ensino aprendizagem


         Músicas: Elemento com características específicas nas mais variadas regiões e culturas pelo mundo afora, vem se tornando uma das ferramentas mais utilizadas em várias disciplinas nos diversos níveis do aprendizado. A linguagem pedagógica proporcionada através da música permite aos docentes e discentes, além do simples prazer de ouvir, a oportunidade de fazer uma interpretação mais técnica, pois, ao fazer um comparativo com os temas pedagógicos estudados nesse momento, os alunos exercitam mais o seu poder de concentração, otimizando a sua capacidade de assimilação dos conteúdos.


          Um exemplo que podemos dar é o da música "Apesar de Você" de Chico Buarque. Através dessa  música ele se tornou um símbolo de resistência à Ditadura, um de seus maiores sucessos e verdadeiro hino anti-ditatorial. Essa música passou despercebida pela censura, devido a maestria de Chico, que fez com que o tema da música parecesse, à primeira vista, falar sobre um suposto amor que não deu certo. Quando a repressão percebeu o deslize, as lojas e a gravadora tiveram seus estoques destruídos.
Chico Buarque fez a letra dirigida exatamente à Médici, Chico Buarque foi chamado a um interrogatório para prestar informações e esclarecer que era o “você” mencionado na música. “É uma mulher muito mandona, muito autoritária”, respondeu. A canção só seria regravada em 1978 num álbum que leva o nome do autor da música. Através da análise dessa música os alunos podem perceber a cultura como forma de resistência á Ditadura Militar Brasileira.

Acompanhe a letra da música:

Apesar de você  (Chico Buarque)


(Crescendo) Amanhã vai ser outro dia x3

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.

(Coro) Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.



(Coro2) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria.


Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.

E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você

(Coro3)Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.

Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

(Coro4)Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiá…….






A iconografia




A iconografia é traduzida como a escrita da imagem, possibilita ao aluno sair do tradicional decoreba, e mergulhar em outros universos, e também estimula o professor na renovação de sua metodologia de aprendizagem, fazendo do aluno um ser ativo e participativo, sendo construtor de seu próprio conhecimento, desmistificando as aulas de história, que sempre foram vistas como chatas e entediantes. Portanto a iconografia é um mecanismo que auxilia o professor didaticamente, privilegiando o desenvolvimento do raciocínio, pois traz descontração, humor, ironia, sátira e principalmente a crítica, e ainda ajuda na memorização dos conteúdos, pois as imagens também são formas de representação do mundo que constituem o imaginário.


A iconografia engloba a pintura, desenho, gravuras, fotografias etc. Sendo todos esses materiais, recursos didáticos e fonte histórica, rica em informações, que precisam ser interpretada.
O uso das charges e tirinhas tem grande impacto visual e é um grande meio de comunicação pelo qual o aluno interage com a história como algo próximo dele e também contribuem para a leitura de textos visuais e requer a interpretação e compreensão por parte dos alunos, que passam a entender as imagens dando-lhes sentidos e facilitando a sua proximidade com o dia-dia.
As charges e tirinhas podem ser utilizadas desde o fundamental até o ensino superior
As tirinhas são uma referência a problemas atuais com criatividade, ajudando aos alunos a entenderem temas difíceis. As tirinhas trazem as histórias em quadrinhos com temas que falam de questões sociais, como a discriminação racial por exemplo.



Estes recursos aproximam os alunos da história fazendo-o participante, bem como é um veículo pelo qual o professor pode dar uma nova roupagem às suas aulas, enriquecendo e contextualizando seus conteúdos e trazendo reflexão sobre acontecimentos do cotidiano.

Filmes no processo ensino-aprendizagem


Entre as mais diversas linguagens utilizadas no processo ensino-aprendizagem, podemos destacar também a reprodução de filmes e músicas na sala de aula para colaborar com o aprendizado dos alunos, facilitando a assimilação dos conteúdos.
Particularmente no ensino da disciplina História, o trabalho pedagógico vem sempre explorando esses recursos durante todas as etapas do aprendizado. Desde o início, na alfabetização até a formação acadêmica, a indicação e/ou a utilização de produções cinematográficas e musicais é sempre uma ferramenta importante na condução de um trabalho docente. Em alguns casos, esses recursos são utilizados também como elemento disciplinador, pois conseguem atrair melhor a atenção de alguns alunos, melhorando portanto uma participação efetiva desses alunos, durante as aulas. Obviamente que, o profissional docente deve atentar para que esses recursos sejam apenas ferramentas auxiliares nas usas metodologias e não o elemento principal no seu trabalho no ambiente escolar.
Vejamos especificamente as principais virtudes desses recursos no processo ensino-aprendizagem:
Filmes: Utilizando sempre roteiros que enfatizem um tema relacionado com os conteúdos que estejam sendo estudados, um filme pode proporcionar observações que forneçam elementos interessantes, através de imagens, textos (escritos ou falados), hábitos e comportamentos dos personagens, além das características naturais dos locais utilizados como cenários.
Portanto, a filmografia é sem dúvida um recurso de grande utilidade para os docentes e discentes da disciplina História, em todos os níveis do aprendizado.


A CONQUISTA DO PARAISO - O contexto histórico central é a expansão ultramarina liderada por Portugal e Espanha entre os séculos XV e XVI, constituindo-se em um dos principais acontecimentos na passagem da Idade Média para Idade Moderna.


CARLOTA JOAQUINA - Esse filme retrata a transferência da família real portuguesa para o Brasil em  1808 e a crise do sistema colonial, motivado pela abertura dos portos brasileiros para outras nações.




sábado, 30 de junho de 2012

Os conteúdos de história no ensino brasileiro


                
                 A história foi instituída como disciplina no Brasil em meados do século XIX, com conteúdos que relevavam a questão da história da civilização europeia, mas precisamente da civilização ocidental. Isso indicava que cada fato histórico era único e sem possibilidade de repetição, a história deveria ser reconstituída de forma objetiva para ser considerada como verdadeira. Esta forma de entender o conhecimento histórico foi, durante muito tempo, considerada como única maneira de pensar e fazer a história, que deveria ser objetiva, racional e produzida a partir de documentos oficiais. Na teoria da história essa produção era metódica e positivista.

Neste período ocorre a constituição dos estados nacionais, e a história ganha seus objetivos mais duradouros, ou seja, serve de instrumento para a consolidação dos espaços e dos feitos dos heróis através das atitudes dos estados representados por seus comandantes. Nos conteúdos escolares observa-se a introdução de “História do Brasil” nos currículos das escolas primárias e secundárias. A definição desses conteúdos escolares coube a um grupo de professores do Colégio D. Pedro II[1] e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)[2], que a partir de estudos realizados definiram quais conteúdos sobre a história do Brasil seriam trabalhados na escola. Tais conteúdos privilegiaram à história da pátria e a constituição do povo brasileiro.

É a partir da constituição deste que se consolida em livros didáticos a História Nacional que tem como modelo alguns fatos que acabariam por se transformar em referência. Tais fatos constituíam um conjunto de acontecimentos sobre a história do país que deveriam ser divulgados e ensinados. O descobrimento do Brasil e a independência do Brasil, entre outros fatos, eram vistos como marcos fundadores da nossa história, contada a partir de 1500, quando os colonizadores aportam na costa atlântica.
Tais conceitos e referências cronológicas acompanham o ensino de história por vários anos. A história da pátria sempre esteve presente no processo de consolidação do ensino de história nos currículos. Diante da 'necessidade' de referendar a constituição de uma nação, a história do Brasil institucionalizou-se enquanto conteúdo escolar, relacionada estritamente a questões políticas. Seguindo esse preceito, os livros didáticos selecionaram os conteúdos tendo como referencial a história política do país e da Europa. Assim, durante quase todo século XX os conteúdos relacionados a história política foram predominantes no ensino  de história.
No Brasil, após a segunda metade do século XX, uma importante mudança historiográfica produziu uma interferência na seleção de conteúdos didáticos, a história marxista. A análise marxista parte das estruturas presentes com finalidade de orientar a práxis social e tais estruturas conduzem à percepção de fatores formados no passado cujo conhecimento é útil para atuação da realidade. Essa teoria modifica a forma de tratar os conteúdos, pois, introduz no ensino de história o objetivo de formar cidadãos com capacidade de crítica social. Nos livros didáticos, modificou-se a estrutura dos conteúdos,agora organizados a partir das questões sócio-econômicas. Segundo BITTENCOURT (2004, p. 137):

A seleção dos conteúdos é pensada a partir daquilo que significam enquanto domínio do saber disciplinar dos professores e não se veiculam com um critério de seleção baseado, direta ou indiretamente, nos problemas do aluno e da vida em sua condição social cultural.

Os conteúdos tradicionais trabalhados no ensino básico começaram a sofrer modificações. A renovação temática e a inclusão de novos objetos de estudo proporcionaram mudanças significativas. Novas temáticas como: mulheres, crianças, religiosidade, doenças, entre outras, passaram a mudar a estrutura do conhecimento histórico.
Como parte desse processo de mudança foram propostos pelo governo federal brasileiro novos parâmetros para a educação básica, através da Lei 9394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A partir de então, a educação básica se compromete a articular conhecimentos, competências e valores, com a finalidade de acordo com BEZERRA (2003, p. 37) “a capacitar os alunos a utilizarem-se das informações para a transformação de sua própria personalidade, assim como para atuar de maneira efetiva na transformação da sociedade”.
Esses objetivos mediaram a elaboração de obras didáticas e seleção de conteúdos para séries iniciais tendo como base a ideia de que aprender história está relacionado com a capacidade de aluno entender conceitos básicos tidos como fundamentais para o ensino de história. Entre eles estariam os conceitos de tempo, espaço e sociedade.
A respeito dos conteúdos para a disciplina História os PCN's (1997, p. 34) descreve o que deveria ser ensinado:

Os conteúdos propostos estão constituídos, assim, a partir da história do cotidiano da criança (o seu tempo e o seu espaço), integrada a um contexto mais amplo, que inclui os contextos históricos. Os conteúdos foram escolhidos a partir do tempo presente no qual existem materialidades e mentalidades que denunciam a presença de outros tempos, outros modos de vida sobreviventes do passado, outros costumes e outras modalidades de organização social, que continuam de alguma forma, presentes na vida das pessoas e da coletividade. Os conteúdos foram escolhidos, ainda que, a partir da ideia de que conhecer as muitas histórias, de outros tempos, relacionadas ao espaço em que vivem, e de outros espaços, possibilita aos alunos compreenderem a si mesmos e a vida coletiva de que fazem parte.

A escolha dos conteúdos a serem trabalhados em história deve está articulado com o modo de pensar de cada aluno, a partir daquilo que lhe é significativo, distinguindo as questões históricas através do repensar o passado.
Mas ao levar em conta as experiências próprias dos alunos, há a disseminação errônea de que não é necessário ter o conteúdo para ensinar história. Não significa isso, existe sim a necessidade de trabalharmos determinados conteúdos, só que estes, devem integrar-se a história de vida do aluno, para que se possa construir com eles novas possibilidades, discutir experiências, levantar hipóteses, dialogar com os sujeitos, os tempos e os espaços históricos.
Algo de extrema importância na forma de pensar o ensino de história é a relação que mantemos com livro didático. O livro deve servir de articulador dos conteúdos históricos que seriam trabalhados em sala de aula. O uso do livro didático e a seleção de conteúdos delimitados pelos currículos e programas acaba por priorizar determinadas habilidades ou operações mentais de cunho mais didático. Sobre esse determinante GRENDHEL (2009, p. 64) nos diz:

Neste caso, a aprendizagem a partir do desenvolvimento de habilidades ou operações mentais, que formam o pensamento histórico como deduzir, inferir, levantar hipóteses, narrar, fica perdido. Desta maneira, o registro do conhecimento histórico realizado em sala de aula acaba por provocar uma separação entre as formas de aprender a pensar e as formas de pensar com e a partir da história, ou seja, entre a aprendizagem e seu objeto.

Por isso, é preciso pensar historicamente, perceber as formas como os indivíduos entendem o conhecimento histórico e se entendem como sujeitos históricos. Ensinar história associando traços de pertencimento, marcas cotidianas e concepções teóricas da ciência histórica. COOPER (2006, p. 73) argumenta que se quisermos ajudar nossos alunos “a se relacionar ativamente com o passado, precisamos encontrar formas (...) que iniciem o processo com eles e seus interesses, que envolvam uma aprendizagem ativa e desenvolvimento do pensamento histórico”.



[1] O Colégio D. Pedro II, situado no Rio de Janeiro, foi criado em 1837 por decreto do regente Pedro de Araújo
[2] O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foi criado em 1838 com o objetivo de elaborar uma história nacional e difundi-la por meio da educação (ensino de história). Do instituto ela passaria para as salas de aula através dos programas curriculares e dos manuais didáticos.

REFERÊNCIAS:

BEZERRA, Holien Gonçalves. Conceitos básicos: Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In.: Karnal, Leandro (Org.). História na sala de aula: práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003, p. 37-49.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história, geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.COOPER, Hilary. O pensamento histórico das crianças. In.: BARCA, Isabel (org). Para uma educação histórica de qualidade. Universidade do Minho, 2006. P. 55-73.
ELIAS, Nobert. Sobre o tempoRio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
GRENDHEL, Marlene Terezinha. De como a didatização separa a aprendizagem histórica do seu objeto: um estudo a partir a análise de cadernos escolares. Tese de Doutorado em Educação da Universidade Federal do Paraná: Curitiba, 2009.
OLIVEIRA, Sandra Regina Ferreira. O tempo, a criança e o ensino de história. IN.: ROSSI, Vera Lúcia Sanbogi de; ZAMBONI, Ernesta. Quanto tempo o tempo tem! São Paulo: Alínea. 2003, p. 145-172.